Sunday, October 29, 2006

Coppola e Antoinette:a arte de bem seduzir

Sofia Coppola, a realizadora independente mais trendy do momento, volta à carga. Desta feita, escolhe uma das mais emblemáticas figuras da história francesa – Marie Antoinette – e transforma-a num mito urbano da actualidade.
Controversa e arrojada adaptação do livro polémico de Antónia Fraser, Marie Antoinette surge como uma versão pop da rainha mártir da revolução francesa. De facto, neste “mundo de Sofia”, a esposa de Luís XVI, surge envolta de um forte carácter humano, é que sem a colocar num pedestal, nem a acusando com traços excessivos, a realizadora parece querer mostrar que Marie Antoinette foi, nada mais nada menos, do que a maior vítima da Revolução Francesa. Apanhada de surpresa, hora e sítio errados, mal amada pela família real, pouco desejada pelo marido e uma panóplia de apupos vindos dos contra-revolucionários e realistas que viam nela uma má influência.
O que realmente está aqui em causa é uma descontextualização temporal em que Sofia Coppola se serve de uma personagem histórica do século XVIII para retratar em simultâneo aquele e este tempo. Limpa o pó à rainha mal amada e transporta-a para um mundo borbulhado pelos sonhos, desejos, fantasias de uma adolescente intemporal. E depois o inesperado surge: uma rainha com o cabelo cor-de-rosa, absorta em jogos, e depois são sapatos, sapatos, sapatos, chocolatinhos redondos, quadrados, triangulares. Uma vida muito pouco ortodoxa, com um especial destaque para a sedução, o adultério, a bandarrice, enfim, uma propulsão de sentidos elevados ao expoente do destempero.

A enrubescer esta película, um verdadeiro toque de mágico, coloca uma banda sonora recheada de músicas new wave como os Bow wow wow (grupo organizado pelos Sex Pistols), The Cure, New Order, The Strokes, Phoenix, Adam Ant & The Ants, Air, a definir ainda mais o estilo neo-pop do novo filme de Coppola.
Destaque ainda para a interpretação absolutamente arrebatadora de Kirsten Dunst e o papel do Ministério da Cultura francês que abriu as portas do palácio à realizadora norte-americana para as filmagens.
Um filme delicioso, uma caricatura voraz e hilariante à sociedade da época, uma “parábola sobre a doce corrupção, feita de sonhos, sentidos e caprichos satisfeitos”, um deleite do início até ao fim.

Posto isto. Vive la Reine!